Filmes com atores reais ou animações cinematográficas?

Filmes com atores reais ou animações cinematográficas?

Estamos nos aproximando do fim de nossa pequena série a respeito da interação entre filmes e cinema, e chegou a hora de tratar de uma das alternativas propostas por muitos de vocês para a má qualidade que assola as adaptações de games para o cinema: animações. Não digo qualquer tipo, obviamente, mas algo no estilo de alta qualidade exposto por Advent Children, por exemplo.

Como comentei no artigo da semana passada, muitas pessoas preferem que os estúdios parem de tentar se concentrar no tipo tradicional de filmes, com atores reais que interpretam o papel de personagens, para tentar traduzir os video games para as telonas de forma muito mais fiel — o que seria feito através destas animações em larga escala.

Mas será que isso é viável? Ou mesmo tem apelo perante o grande público? Afinal de contas, o investimento que vai para um filme — mesmo se o orçamento se aproxima atualmente das grandes produções dos games — é gigantesco, e é preciso que haja retorno. Criar um longa-metragem que agrade apenas a um pequeno nicho de fãs certamente não é um empreendimento viável.

Dan Houser, da Rockstar, disse em certo momento que o objetivo primário de um estúdio de desenvolvimento é obter retorno para seus investidores — e ele está certo, se analisarmos logicamente. Por mais que um jogo seja criado e agrade a todos, mas não venda, não teremos outros como ele, pois ninguém estará disposto a bancar tal projeto.

O mesmo se aplica a filmes, numa escala ainda maior. O engraçado é que no caso de adaptações de video games, ainda existem pessoas dispostas a bancar novas tentativas simplesmente por causa do apelo que os jogos em si possuem. Não existe outra razão, por exemplo, para Uwe Boll ter destruído tantas franquias de nome.

Passemos, então, a uma comparação simples: quais são os benefícios de um filme com atores reais e quais são os de uma animação. Lembrando, sempre, que esta é uma opinião minha, que visa apenas expor uma visão para que você, leitor, participe da discussão. De forma alguma é um evangelho da indústria! Mas vamos lá.

Filmes tradicionais
Atores interpretando personagens

Todos possuímos alguns atores com os quais nos identificamos mais. Seja porque admiramos sua capacidade de interpretação, seja por sua beleza, pelo carisma ou até mesmo porque “fomos com a cara” deles. Da mesma forma, existem aqueles que simplesmente desprezamos, por considerar que não são dignos de atenção. O que já resulta em problemas antes mesmo da filmagem do longa.

Fãs irão inevitavelmente especular e discutir sobre as pessoas mais apropriadas para assumir certos papéis antes de o filme ser produzido. Consequentemente, existe uma considerável expectativa de que o cidadão escolhido possa ser identificado com o personagem que irá interpretar. E, obviamente, esse tipo de escolha nunca agrada a todos.

Além disso, adaptações têm de ser feitas para acomodar o que pode ser realizado com tecnologias atuais e com as capacidades humanas envolvidas no filme. Ninguém espera, por exemplo, que realmente se filme um longa em Marte, caso seja um jogo de ficção científica — e a forma como isto é simulado também gera inevitável controvérsia.

O que quero dizer com capacidades humanas? Basicamente, que em um filme tradicional existe um diretor, que passa a ideia aos atores, que em seguida devem fazer o seu melhor para transpô-la do campo abstrato para o visual. O que nem sempre acontece de maneira adequada, ou mesmo da maneira desejada.

Animações
Personagens interpretando personagens

Já neste gênero, a coisa toda é muito mais fiel aos preceitos do game. Concessões ainda são feitas, obviamente, para comportar o tempo de exposição reduzido que um longa-metragem possui com relação a um jogo eletrônico. No entanto, a visão dos produtores pode ser diretamente impressa ao projeto, o que elimina vários dos intermediários e resulta em algo mais próximo do título original.

Isto não significa que não exista uma troca de ideias entre os membros da equipe, ou mesmo que seja a pessoa que possui o roteiro na cabeça que crie a animação; ainda existe todo um grupo de programadores, designers, diretores e tudo mais. A diferença é a possibilidade de especificar em detalhes o que cada um dos personagens devem fazer — a qualidade das representações não varia de ator para ator.

Além disso, a aparência dos personagens será extremamente próxima daquela já bem conhecida pelos jogadores. Isto porque as técnicas utilizadas hoje em dia nas modelagens em jogos estão se aproximando incrivelmente rápido das técnicas mais avançadas de animação empregadas na indústria do cinema — permitindo que as reproduções sejam extremamente fieis e realistas.

Mas ainda assim existem alguns detalhes a serem observados em animações. Atores podem não existir para interpretar os personagens visualmente, mas ainda devem ser feitas dublagens para dar voz a cada um deles — e aí entra mais uma vez a qualidade do trabalho de cada um dos envolvidos, que pode ser bastante variável. Mas entraremos nesse aspecto particular um pouco mais adiante.

Como, então, justificar a produção de filmes com atores reais se as animações podem, em teoria, resultar em um projeto muito mais adaptado àquilo que os fãs desejam ver, e de forma muito mais homogênea? Existem várias razões, mas a principal delas é sem dúvida o apelo perante o grande público.

Nem todo mundo gosta de assistir a animações, principalmente as que duram em torno de duas horas. Para muitos, isto é cansativo e simplesmente não tão atrativo quanto um filme tradicional. É o caso de alguns membros de nossa equipe por exemplo (incluindo aquele que vos escreve) — simplesmente preferimos filmes com atores reais, assim como uma grande parte do público de cinema.

É óbvio que esta percepção está mudando, sendo que nestas últimas duas décadas as animações assumiram uma posição de destaque na indústria de cinema, impulsionadas pelos avanços tecnológicos. Mas, ainda assim, muitos preferem o estilo tradicional, mesmo que as recentes tentativas de adaptações de games tenham obtido melhores resultados com animação.

Se você, leitor, esperava que eu desse uma resposta conclusiva sobre qual é a melhor forma de adaptar um jogo, infelizmente ficara um pouco desapontado. Analisando todos estes aspectos, o que se pode concluir é que algumas desenvolvedoras irão pender para um lado, enquanto outras preferirão o outro.

O que podemos ver claramente, no entanto, é que existe um desejo genuíno por parte dos fãs de video games em assistir a algo que esteja à altura das expectativas, pelo menos uma vez. O que é certo é que, se for uma animação, o público é mais limitado do que o de filmes tradicionais. Resta torcer para que os esforços expostos na semana passada dêem resultado.